Estou na sala de embarque do aeroporto! Lógico que cercado de estranhos e eles são dezenas... Dezenas de pessoas concentradas em afazeres pessoais e cada vez mais equipadas com recursos tecnologicamente modernos e desenvolvidos.
Ao meu lado, ocorre um revival! Algo me faz lembrar décadas que nem percebi como passaram rapidamente, quando era comum que as pessoas escutassem seus pequenos radinhos de pilhas, ora colados juntos aos ouvidos, ora com som de qualidade duvidosa e decibéis agressivos.
No exato momento, o personagem principal da minha viagem no tempo é um jovem, com seu moderníssimo celular, pulsando numa intensidade de sons graves que confunde com o som de um contrabaixo ao vivo... Falta harmonia, falta letra, falta qualidade...sobra barulho...mas não é sobre isso que quero falar. Ele está em seu mundo e, pasmem: tecla compulsivamente seu i-pad com a outra mão...
Ao lado do jovem, um senhor faz estripolias em seu smartphone, ao lado dele, quatro pessoas teclam compulsivamente em seus notebooks. Todos silenciosos, todos restritos ao próprio mundo!
Nossa, o que estão fazendo conosco? E os investimentos nesse mercado são cada vez mais BILIONÁRIOS! O Skype foi até namorado por outras gigantes da tecnologia, mas a Microsoft se dispôs a pagar US$8,5 bilhões pela empresa de serviço de chamadas de voz e de vídeo pela internet.
A Microsoft disse que a compra da Skype "irá melhorar e aumentar a acessibilidade de conversas de vídeo e de voz em tempo real pela internet, trazendo benefícios para consumidores e empresas, além de trazer novas oportunidades de negócios". Hiperconectividade potencializada, com certeza...
Tiro minha visão local e passo a olhar de maneira mais abrangente! Dezenas de pessoas com seus MP3, MP4, em suas ilhas de isolamento. A esmagadora minoria está lendo um livro (físico ou eletrônico) e uma massacrante maioria passa o tempo com atividades eletrônicas de fácil entretenimento.
O fato comum a todos que estão no mesmo ambiente que não há troca de palavras, de experiências. Até o presente momento ninguém puxou aquele famoso "tempo frio, né?", que nossos avôs e avós costumam ou costumavam fazer.
Todos estão focados em suas missões ao desembarcarem e, enquanto isso não chega, curtem um mundo absolutamente individual. Isso me leva a crer que, cada vez mais, TODO MUNDO É UMA ILHA...
Opa! Tocou o celular do vizinho!! Vou prestar atenção: "sim, sim...tô na sala de embarque...eu também te amo...não, não precisa rezar agora porque o voo só sai daqui a uma hora....". Achei o diálogo bonitinho e apaixonado! Enfim, uma pitada de emoção!
Será que potenciais clientes e fornecedores não poderão estar sentados bem ali, ao lado um do outro? Hum, isso me faz pensar em fazer algo para que, aqui sentado, possa estar vendendo meu trabalho... Gritar o que faço? Pendurar um cartaz? Não, não me parece uma boa idéia... Caro leitor, se você tem uma idéia para divulgação que vai além da flor e do número do telefone pregados no paletó do cantor Falcão, avise-me, OK?
A reflexão de que TODO MUNDO É UMA ILHA me conduz a pensar o quanto a minha atividade é isolada. Tá certo que falo para auditórios lotados em todo o Brasil, graças a Deus!! Também não deixo de puxar conversa com as pessoas à minha volta! Ajuda a passar o tempo, mantém a mente ligada e já até converti tais conversas em negócios!! Fechei contratos na fila de embarque e dentro do avião!! Mas fora esses, meus demais momentos profissionais são de profundo isolamento (além de aeroportos e voos, nas estradas, hotéis e, principalmente, nas horas de criação de textos, temas, artigos, slides, etc.).
Eu vim da área comercial e falar, fazer conexões reais (muito mais profundas que as virtuais) foi um dos grandes desafios da minha vida. Sempre trabalhei com produtos altamente competitivos e sempre precisei usar todas as formas de comunicação para vendê-los.
Sempre usei e até fui além da comunicação verbal! Usei dos mais variados recursos para vender e isso transformou-se na energia que uso em meus treinamentos atualmente!!
Acho que devemos atentar para isso: mais corações, calor humano, face to face! Mais piadas e risadas reais e menos kkkkks, hahahahas e rsrsrsrsrs virtuais. O mundo precisa de gente!! A tecnologia ajuda, reduz distâncias, ameniza saudades, mas nada substitui a presença de gente que fala, que respira, que troca energia, que olha no olho, que sangra, que ama!!
Peço licença, caro leitor. Olhe para o seu lado e comece agora um diálogo real, porque eu vou começar o meu com um vovô super simpático que sentou-se ao meu lado. A gente aprende tanto com os mais velhos...: "Senhor, sabe quanto foi o jogo ontem?...Tá brincando...Nossa!! O senhor é de onde?"
Dill Casella é autor do livro “Atitude e Altitude” pela Editora Vozes, de dezenas de artigos publicados em mídia impressa e digital e um dos palestrantes mais criativos e contratados atualmente no Brasil!